31 março, 2008

the poisoned mondays antidote



"so easy" - röyksopp, do álbum "melody a.m." editado por wall fo sound em dezembro de 2001 (video não oficial).

28 março, 2008

thank God it´s friday




atlanta, georgia, usa

O desconforto corporal despertou-me. Zeloso das condições necessárias aos despertares optimistas, o sono aborrecera-se com aquela luminescência que entretanto se assanhara pelo quarto, perturbando o crescer amordaçado das suas sombras: um reflexo circunspecto na moldura das memórias, o crepúsculo subindo o vinco desconforme das roupas, o silêncio fundo e desenhado dos móveis, antes que tal quietude desarrumada, exposta, sucumbisse por completo, por volta das oito e um quarto sobre o inevitável frenesim citadino. Fora na exacta expectativa dessa normalidade cronológica, que me havia deitado, exausto, sete horas antes.
Quando o meu corpo se sacudiu naquele aborrecimento incómodo, acordando-me – e para muitos, incluindo eu mesmo, isso nunca acontece no exacto momento em que abrimos os olhos – a luz transpirava ofegante das paredes. Efectivamente, algo diverso acontecia no amanhecer do quarto.... Eram sete horas e uma quantidade imprecisa de minutos mais e na manhã persistia ainda pura, a fresca e inocente dureza dos frutos – aquela que a gosto se arranca com os dentes – a que contudo correspondia uma luminosidade difícil, uma incandescência vigorosa, própria já do meio do dia e que a fisiologia do meu corpo, num estremecer, em absoluto rejeitara.
Em Atlanta, cidade de uns quantos milhões, que se estende e se multiplica visível pelo interior de reflexos e espelhos, pusera-se uma manhã temporalmente diversa, desencontrada, sem que coisa alguma se agitasse pelas ruas... A metrópole extensa, quase infinita, acontecia suspensa de si mesma, banhada de luz…
Assentei-me nos pés, aproximando-me da claridade que brilhava intensa junto à janela do quarto e marquei no vidro, a palma da mão. Do meu trigésimo quinto andar, no extremo sul do Georgia Institute of Technology, onde convergiam a Spring Street e o segmento nascente da North Avenue, percebia bem a esquadria apertada das ruas e os quarteirões a norte do Centennial Olympic Park, que partem da Alexander Street, tendo por limite no seu estremo nascente, o Hardy Ivy Park e a Peachtree Street. É por ali que se arremessam ao início do dia, executivos e quadros técnicos saídos da ligação alcatroada ao subúrbio, às vivendas afogadas em folha caduca e erigidas em lugares bem mais pacíficos e chilreantes. É sempre por aí que se semeia e alastra a efervescência dedicada dos seus dias, o seu fervor e empenho empresarial, que posterior e inexoravelmente, alavanca toda a cidade.
Hoje, porém, a estas horas e por aquelas paragens, em tudo penetrava a ausência e a paralisia. Nada nem ninguém constrangia outrem, ninguém dificultava ou obstruía. As ruas permaneciam ruas, sublinhadas na sua fisionomia rectilínea pelo bordejamento fresco dos plátanos, nuas das coisas e de pessoas, nelas alvoraçando apenas os pássaros, résteas pulsantes de uma natureza já de si exígua, em voos tão imprecisos quanto estúpidos, para entretenimento solitário da Primavera…
E fora talvez acreditando no meu próprio espanto, nesse crescer incrédulo de se tornar suspenso o magma de que depende o nome cidade – ou simplesmente porque era ainda mais intenso aquele crescer da luz – que melódicamente recordei as palavras de Scott Weilland, escrevendo “Atlanta”,

“She lives by the wall,
and waits at the door,
She walks in the sun, to me “.

Perguntei-me se partilhando amantes, enganando gordurosos maridos, espancadas as mulheres ou futilmente maquilhando-se de jóias, toda a carne e todo o metal - sobre o qual se ergue a circunstância contemporânea dita Atlanta - se havia nessa manhã prostrado e comovido, fulminada de uma atroz pequenez, na esperança que um bem-dito milagre surgisse daquele inaguardado ímpeto de luz, expiando-nos das mentiras que nos trazem tão pesada, a breve existência.
Dera-se a cidade conta da frágil contingência do aglomerado que nela existe? Dera-se ela conta do mal e do bem, da força e da doença, do fogo, da água, dos velhos e novos, dos perfeitos e do estropiamento dos rejeitados? Constatara numa súbita atenção, a profunda sabedoria de uns e a repugnante ignorância de todos os outros? Dera-se conta da ambição e da cobiça, do choro, do riso, da dor ou júblilo ou do despojamento, que não somos já capazes de suportar? E por entre esse demasiado lixo e a persistente pouca virtude, dera-se enfim conta daquela trémula justaposição de almas, que convergindo no ínfimo de seus corações, jurava no medo e na fúria, um amor eterno, quando tudo o que acima delas avança é agressivo e pontiagudo?
A minha mão ficara marcada onde antes observava uma natureza morta. Esperei que da moldura desse instalado silêncio surgisse, no pormenor, um arrependimento. Esperei... mas a espera era a esperança descrente em si mesma. Ao longe, adensava-se por fim o retomar um tanto ou quanto tardio da normalidade, a voragem irreversível de todas as coisas que nos prendem e nos tornam, pela maior parte do tempo, entidades invisíveis a nós mesmos.
Os pássaros, assustados, fugiram.
Melhor era que no banho me visse livre desta difícil persistência do sonho. Em Atlanta, já nada existe por quem valha a pena o interesse de um gesto, um quadrado puro no coração, pois nada se sobressalta ou se angustia pela ausência, pela interminável duração do dia, antes que o beijo do reencontro por inteiro nos restabeleça. Há quem se queira ou se ame? Há quem simplesmente espere e lhe cause dor o insuportável largar da mão, por todo um resto de dia?
Esfreguei pelo corpo a higiene perfumada de uma barra de sabão, a espuma da barba no contorno do rosto, apaziguei a ardência da gilette com bálsamo hidratante e reparador, vesti-me de Armani e um pouco mais lentamente do que costuma ser habitual, saí... Que nos fulmine a luz e se anuncie aos que persistem amando, que em breve, todos estarão ameaçados de extinção….

Julian Böhm

"Atlanta" por stone temple pilots, do álbum "number four" editado por geffen records em agosto de 1999.

27 março, 2008

a mediação impossível


stuntman mike vs. pam

Death Proof, de Quentin Tarantino, troublemaker studios, Julho de 2007

24 março, 2008

e assim foi no princípio!



Por paradoxal que tal nos possa parecer, os duelos são coisas que por vezes se eternizam, ainda que algum dos seus protagonistas, em dado momento, se ache prostrado na terra , mortalmente fulminado. Por graça e génio de sergio leone, a eternidade cinéfila persiste no caso do duelo de morte entre lee van cleef e gian maria volonté, arbitrado por clint eastwood cena de "por um punhado de dolares mais" e que serviu de inspiração ao primeiro post deste blog, exactamente há um ano atrás, inaugurando-se a partir dele, toda a sequência que por aqui se vai mantendo viva ou já arquivada.

Ainda que seja gian maria volonté aquele que mais ficou a perder e aquele que prostrado e sujo de poeira, pelo resultado que sobre si se produziu, definitivamente encerraria o duelo em que arriscou, o que é certo é que o combate se acha eternizado na memória dos vivos, apesar do funesto resultado a que, necessariamente, conduziu.

Ora, um ano depois, diria que o blog aperguntacircular, nem é vencido nem vencedor e por isso não tomará partido por van cleef, nem por volonté. Diria que tal como o verdadeiro mediador, o blog continua e continuará como se fosse a personagem de clint eastwood, segurando um relógio com caixa de música, propiciando um justo enfrentamento, aguardando que um resultado se produza. E ainda que possamos manifestar simpatias por este ou aquele, o certo é que, mais tarde ou mais cedo, um disparo deflagrará e alguém no fim dele se achará vencedor e vencido.

Por agora e um ano depois, independentemente de revólveres e dos balázios, torna-se evidente que todas as felicitações serão bem vindas!

Obrigado.

20 março, 2008

aperguntacircular weekend lounge



"useless" - remistura por kruder & dorfmeister de original dos depeche mode, do álbum "dj kicks" editado por !K7 em junho de 1996.

Bom fim-de-semana! Boa Páscoa!

18 março, 2008

renegados?




Alguém me disse uma vez, que as boas respostas aos problemas, surgiriam sempre do lado oposto aonde as mesmas eram procuradas. E foi de algum modo essa visão e esse conselho que me trouxe o entusiasmo para a problemática da mediação: num exercício concreto daquele adágio gratuitamente oferecido – coisa rara! – a resposta para muitos dos problemas do sistema judicial, não estava no sistema judicial (e na míriade de soluções que a partir dele se desenham) estaria antes num modo alternativo de abordar as suas implicações e problemáticas, cuja essência não estaria dependente de uma estrutura mediatizada e administrativamente hierarquizada, estaria antes dependente do indivíduo, enquanto ser capaz de julgamento e de equilíbrio. O contraste assim alcançado e a que aquele adágio não é de todo estranho, não poderia ser mais eloquente… É daqui que surge e se vai mantendo aquele entusiasmo mediador.

Agora dá-se um simples exercício masoquista: e se o entusiasmo (ou mesmo a algazarra!) posta na mediação e na resolução alternativa de conflitos – que continua por aqui a ser manifestado – fosse o problema e as respostas necessárias e viáveis, houvessem de ser encontradas nos antípodas daquele nosso entusiasmo, aonde muito pouca gente ainda estaria? De quem seria todo este tempo? Quem seríamos nós? Os da alternativa renegada?

O exercício é hipotético e superficial, mas evidencia o facto de as soluções - quaisquer que elas sejam - nunca serem uma coisa simples... Por isso,

Say jam sucka jam!
Say jam sucka jam!
Say groove sucka groove
Now groove sucka groove
Say dance sucka dance
Say dance sucka dance
Say move sucka move
Now move sucka move
We're the renegades of funk

“Renagades of Funk” versão de Rage Against the Machine a partir de original dos Afrika Bambaataa, do álbum “Renagades” editado por Epic Music em Dezembro de 2000.

12 março, 2008

seven nation army



... e viremos algum dia a sê-lo?


"seven nation army" - the white stripes, do álbum "elephant" editado por V2 records, em abril de 03.

11 março, 2008

mira técnica

Por dificuldades a que julgamos ser totalmente alheios, a emissão no presente blogue encontra-se temporariamente interrompida.

Retomaremos a emissão dentro de momentos (ou logo que nos seja possível).

obrigado.