Curiosamente e na sequência do post anterior(estado vs.mediação vs. estado) sei por linhas travessas, que mais gabinetes de mediação familiar se preparam para abrir, tornando-o num mecanismo de resolução de conflitos generalizado e naturalmente, com exclusivo patrocínio estatal.
Para quem aja com mais benevolência relativamente a mais esta iniciativa do estado-previdência (porque de algum modo se inscreve e aceita políticamente e ideológicamente tal intervenção) tal poderá constituir mais uma óptima iniciativa, situação que de resto pode reforçar a convicção de muitos em prosseguir adstritos às respectivas opções políticas e ideológicas.
Como é evidente, tudo é de salutar e ainda que não concorde com a linha que é adoptada na concretização de tais gabinetes de mediação familiar (por razões de que adiante se falará) a iniciativa não deixa de ter méritos (quanto mais não sejam, aqueles que decorrem da publicitação a dar aos meios alternativos de resolução de conflitos).
Contudo o que aqui se escreve, tem em mente, não os entusiastas de determinadas opções políticas e aqueles a quem a problemática da mediação é algo de relativamente inócuo, mas sim aqueles que como nós, frequentaram um curso de formação sobre tal matéria e experienciaram as dificuldades que a mesma envolve, no seu desenvolvimento e conclusão, nomeadamente, a mediação levada a cabo no âmbito familiar.
Pela sua particular natureza e pelo conjunto de questões vasto e sensível - até para o próprio êxito da mediação familiar - esta deve ser objecto de uma abordagem cuidadosa, pormenorizada e estratificada (faseada) que permita a conveniente gestão de todo o conjunto de problemas que acarreta. Da experiência que tivemos - e a minha quando comparada com os colegas que já frequentaram o curso de mediação familiar do imap, é pouca - uma coisa desde logo resulta: a de que por exemplo, o trabalho em equipa, pode ser determinante no suporte de uma mediação tão complicada como aquela que normalmente se nos afigura, quando se trata de família.
Ora, aquilo que se perspectiva nos futuros e actuais gabinetes de mediação familiar, é o puro decalque do que se encontra estabelecido para os julgados de paz: um único mediador, sobre o qual será despejada toda a conflitualidade latente (interna e externa) da relação familiar a qual o mesmo enfrentará sozinho, tendo posteriormente, se sobreviver áquela primeira fase, contruir a segunda, ou seja a das alternativas e soluções.
Acresce a esta mesma situação de clara debilidade de quem efectua a mediação (porque actua sozinho perante a possibilidade de alarvidades e monstruosidades) existe uma outra circunstância perversa: a de que independentemente do resultado, 90 euros já cá cantam... O que naturalmente levanta a questão sobre o empenho que alguém deixado só, pode ter na efectiva mediação do conflito!
A pergunta pois é a seguinte: se era para edificar algo manifestamente débil nas soluções que propõe e que terá uma taxa de sucesso, naturalmente mais reduzida do que a que seria expectável (caso existisse um verdadeiro empenhamento na construção de uma solução viável e flexível, ainda que estatizante) para quê edificá-la e sustentá-la com um "output" logo á partida, reduzido. Não seria melhor, poupar nos impostos e deixar que o mercado e a inciaitiva das melhores soluções (nomeadamente aquelas que permitem o tratamento das questões em equipa) tomassem o respectivo espaço? Seguramente que a mediação familiar seria melhor servida deste último modo.
Acreditem-me: continuo severamente irritado!!