28 março, 2007

estamos safos?

Se acreditarmos que a conflitualidade é algo inerente à natureza humana - e eu acredito piamente que assim é, que qualquer visão mais simpática ou benevolente do Homem peca sempre por excesso - não há dúvida nenhuma que, de igual modo, mais espaço existe para a actuação da MEDIAÇÃO, como mecanismo ao serviço da resolução ou do atenuamento dos respectivos desaguisados (essa roda perpétua). Contudo e após mais uma das nossas agregações e discussões em grupo, uma outra coisa resultou: não é só a propensão à conflitualidade o príncípio e o motor de tudo aquilo que agora aprendemos. Que seria de tudo isso sem o ego, sem a pulsão - a maior parte das vezes, inconsciente - para o reconhecimento?
Enfim, os psícólogos e psicanalistas que se dividam doutrinalmente quanto às origens e humores do ego, mas uma coisa me parece certa sob o prisma da mediação: enquanto houver estouro e estaladas e os Homens prosseguirem prezando o respectivo ego, isso significa que continuará a haver mercado... Esfrego as mãos de contente!

5 comentários:

isabel pinto disse...

Mitos Sobre a Mediação

Alguns advogados, ao estimularem o acordo entre os seus clientes, ou ao realizarem um divórcio por mútuo consentimento, por exemplo, pensam estar a realizar uma mediação.
Na realidade, sem uma formação específica, ninguém pode afirmar categoricamente que faz mediação, pois esta exige conhecimentos ao nível das técnicas de comunicação, dos aspectos psicológicos do conflito e das relações de poder e outros temas que vão muito além de um curso de Direito.
Nesse sentido, o advogado Jorge Veríssimo, no seu artigo“Tem dúvidas sobre a Mediação? Consulte o seu Advogado”, do Boletim da Ordem dos Advogados, afirma que, diversamente do que se imagina, não existe apenas uma técnica de mediação; na verdade, há diversas abordagens e variados métodos, cuja utilização vai depender de factores como a personalidade do mediador, das pessoas envolvidas no conflito e da questão a ser mediada. Por isso, segundo este advogado, “os mediadores devem na sua formação adquirir técnicas diversas para que melhor possam escolher a mais adequada”, salientando a importância da formação do mediador:
“Todos nós temos ouvido dizer que ‘ou se nasce mediador ou não’ e que será uma aptidão a desenvolver por quem a possua ou um talento resultante da prática.
No âmbito mais restrito dos advogados, qualquer um, com a sua prática de anos de negociações que, com maior ou menor frequência, desembocam em acordos, se tem na conta de um bom mediador, sem que tenha tido qualquer formação em mediação.

Nada mais falso: o talento nesta matéria não chega...

O mediador deve assimilar um mínimo de conhecimentos, técnicas de conhecimentos, prestar-se a um treino simples, mas concreto, e aceitar uma autoavaliação que evidencie as suas fraquezas e a sua necessária correcção. E para além da formação específica, é aconselhável a formação contínua.
A corroborar o que se acaba de expor, do elenco de requisitos para ser mediador constantes da Lei n. 78/2001, de 13 de Julho, encontramos o de ‘estar habilitado com um curso de mediação reconhecido pelo Ministério da Justiça’ (art. 31 al. d.).
Naturalmente, para além da formação contínua, ainda que alguns possam revelar-se excelentes mediadores logo após terem seguido uma formação, a experiência é indispensável.
Deve reconhecer-se que, dada a novidade da mediação, em Portugal e também na Europa, são ainda raros os mediadores experimentados em áreas como a família, penal e laboral. É a sua divulgação que permitirá que a experiência se desenvolva com benefício para todos.
Na escolha do mediador são habitualmente mais importantes as suas capacidades do que a sua familiaridade com a matéria do diferendo.
Como afirma o ditado popular, “de médico e de louco todos temos um pouco”. Talvez possamos acrescentar, “de médico, de louco e de mediador, todos temos um pouco”. No entanto, assim como o exercício da medicina não requer apenas boa vontade, mas um diploma, ser mediador não é apenas uma questão de talento – é necessária uma formação inicial e contínua, além de uma prática constante.
Isabel Pinto

antonio disse...

Caríssima Isabel:

concordo quando dizes que o talento em termos de mediação não chega. Essa sempre foi, e é a ideia, com que muitos dos advogados exercem a profissão: a de que são mediadores por excelência. O curso permite desconstruir esse mesmo mito. Não que não haja advogados cuja abordagem seja de uma forma geral conciliatória. Contudo os resultados que possam alcançar são sempre diminutos relativamente às perspectivas que um verdadeiro mediador tem. Este pode efectivamente resolver o conflito, o advogado dificilmente.

O que me venho perguntando a este mesmo propósito, e perante tudo aquilo que vimos aprendendo, é onde fica o advogado que há em mim...

Ás vezes sinto-me o Dr. Jeckyll e o Mr. Hyde...

Não sei se sentirás do mesmo modo, ou se já assumiste a costela mediadora em definitivo?

isabel pinto disse...

António,

Esta ultima semana, senti-me posta à prova e, por isso nas simulações que fiz, tentei despir-me de todos os princípios que tinha enraizados durante anos, de forma a poder acompanhar este meu novo desafio. Senti, porém, muitas dificuldades, em despir a minha capa de “advogada” .

Os exercícios práticos têm contribuído para uma maior interiorização dos conceitos e das técnicas abordadas nas aulas teóricas e, bem assim, para uma consciencialização séria de que as nossas formações académicas têm de ser postas de lado ao actuarmos como profissionais de mediação de conflitos.

Com o treino intenso desta última semana, testei a minha capacidade de auto-observação de forma a evidenciar as minhas fraquezas e a necessidade da sua correcção.

Reconheço que, o meu grande desafio tem sido o de incorporar a ideia do que é ser mediador, seu perfil e funções…um técnico sem título académico que, humildemente assume uma posição secundária de que nada sabe para, com uma visão multidisciplinar da realidade e através do questionamento, despertar nas pessoas o seu saber, ajudando-as a descobrir o seu caminho...

Tem sido difícil lutar contra toda a formação académica que recebi…ela não foi para ouvir as pessoas mas para falar e sobrepor as minhas ideias de modo a conseguir convencer e persuadir…não foi para aceitar a ajuda delas mas para ser eu a protagonista… não foi para atender aos interesses das pessoas mas para resolver os problemas delas (seja de que maneira for)…

A técnica de mediação de conflitos tem por base um novo conceito de ser humano mais ligado a uma visão totalizadora da realidade em contraposição à parcialização redutora do sistema judicial.No sistema judicial, nós advogados auxiliamos a aplicação da justiça, igual para todos, trabalhamos com formalismos rígidos, muitas vezes com o saber parcializado e utilizamos frequentemente a capa de arrogância, como forma de escamotear os nossos medos e inseguranças, num cenário de verdades absolutas onde somos sempre os protagonistas…

Esta formação tem servido, também, para tomar consciência de que a minha formação académica me “embroteceu” enquanto ser humano. Sinto que me tornou mais máquina e menos pessoa num mundo onde, afinal, é perfeitamente possível a convivência de vários métodos de resolução de conflitos (os métodos tradicionais e as novas técnicas mais humanizantes de resolução de conflitos.), sem eles se belisquem…

E, se outra virtualidade não tiver esta acção de formação, pelo menos a mais valia de ter vivido esta experiência que me fez reflectir sobre a minha conduta na sociedade enquanto pessoa, essa, pelo menos, já ninguém ma tira…

Isabel Pinto

antonio disse...

Caríssima Isabel:

confesso-te a minha divisão. Acho que de momento sofro de um problema de dupla personalidade profissional: ainda não consigo verdadeiramente esquecer-me da minha condição de advogado e do compromisso para com a verdade de uma das partes!

Mas presentemente sinto-me invadido por um vírus: o mediator! sinto que cada vez mais ele corre no meu sistema operativo e que de algum modo me alarga as perspectivas sobre diversos assuntos que tenho em mãos!

Contudo digo que enquanto não me afirmar enquanto mediador (se é que alguma vez tal possa acontecer...) vou vestindo a pele de advogado tentando integrar tudo o que fomos aprendendo no curso numa mistura (quiçá explosiva!) sobre o desempenho da profissão.

Dr. Jackyll 2 - Mr. Hyde 1.

nota: uma vez mais solicito-te o esforço de tentares publicar os teus textos como "posts" e não como comentários dentro dos posts, uma vez que és blogger autorizada (tal como qualquer colega que se ache registado) para publicares directamente na página aperguntacircular.blogspot.com!

isabel pinto disse...

António,
Desculpa a minha franqueza mas não sei publicar directamente no Blog. Se puderes e/ou quizeres publica o meu texto anterior, senão tens de me explicar como tenho de fazer...