Arrumar as botas. Arrumar as botas é a expressão futebolística para alguém que tendo já uma longa carreira nos pontapés à bola, decide por conveniência e imperativo de idade, arrumar as botas, ou seja, pô-las a um canto, guardá-las no armário e deixar os pontapés para os outros, sejam verdadeiramente pontapés na bola ou pontapés naqueles outros que a costumam disputar (como breve nota, não deixa de ser curioso verificar como muitos passaram entretanto a jogar também com os cotovelos).
De qualquer modo – desde que o futebol é gente – houveram já muitos que arrumaram as botas e outros que pensam em arrumá-las muito em breve. Há aqueles também que andando ainda aos pontapés, pensem por este dias que perderam uma boa oportunidade para terem arrumado as botas antes: o Rui Costa do Benfica há-de estar a pensar isso mesmo, sempre que executa mais um remate, o que por norma acontece ao lado da baliza adversária (não é demais elogiar o discernimento que Rui Costa preserva e que Deus o mantenha por muitas jornadas). Deve pensar o Rui Costa depois de rematar 20 metros acima da baliza: “Devias ter ouvido o mister pá, devias já ter arrumado as botas….”. A isto chama-se futebolês.
Mas verdadeiramente, arrumar as botas para alguns não será drama nenhum. A reforma é dourada. Drama é pensar arrumar as botas quando ainda nem se entrou em campo e nem um remate se fez à baliza (ainda que o remate fosse ao lado)… Isto a propósito do que aqui já se escreveu e do recente propósito do governo em alargar os mecanismos de mediação (nomeadamente a familiar), bem como alargar a rede de julgados de paz e consequentemente, da mediação que neles sempre acontece. A questão não se coloca relativamente aos Julgados de Paz. Coloca-se sim no alargar de um meio – o da mediação familiar – que na forma como se concebe, como aqui já se escreveu, não propiciará uma boa solução para os objectivos pretendidos. A solução de abrir gabinetes de mediação em matéria familiar, sem que aos mesmos sejam adstritas equipas que possam abordar de um modo mais estruturado e alargado, a problemática sensível da mediação familiar, é um erro claro, que tolhe á partida as possibilidades de sucesso que nesta mesma área poderiam ser alcançados. Sendo igualmente uma solução que é financeiramente estribada nos impostos, ele dificulta a criação de um mercado dirigido á solução de tais problemas, mercado esse que procuraria estar melhor preparado e disponível para uma correcta estruturação na abordagem ao problema (concorrência a quanto obrigas!). A existência de uma iniciativa de cariz essencialmente privado na mediação familiar por exemplo (ou outras) não impediria a celebração de protocolos com o Estado no sentido de estruturar formas de resolução alternativa de conflitos e do acesso a estas, de quem a elas pretendo recorrer seja socialmente desfavorecido.
Eis pois alguém que pensa desta última maneira e que procurando e estando disponível para desenvolver um esforço no sentido de estruturar aquela iniciativa de carácter individual, vê em campo uma equipa que jogará necessariamente um mau futebol, mas que conta com os milhões do abramovich português: o Estado. E então? É caso para também arrumar as botas?
Há circunstância em que damos por nós irritados, numa sala de espera e enquanto aguardamos, pensamos se nos levará a algum sítio, fazer este escárnio constante ao Benfica…
Vídeo: “waiting room” por fugazi, ao vivo Wilson Center, Washington DC, Dezembro de 1988.
12 outubro, 2007
na sala de espera
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